VIVER É SONHAR SONHAR É VIVER

Sonho-me vivo ou vivo a sonhar?

Qual véu me cobre? Qual me desnuda?

Se o sonho me ergue, posso voar,

mas se a vida me chama, a queda é dura.

Sonhar é um lume que arde sem dó,

consome, ilumina, promete, engana.

Viver é um rio de fúria e pó,

ora doce e manso, ora desanda.

Se sonho demais, me perco no nada,

se vivo sem sonho, me torno ninguém.

No alto da febre ou na estrada calada,

sou grão de um tempo que passa sem bem.

Oh, trágico enigma, destino insano!

Se vivo desperto, o sonho me falta,

mas se o sonho me toma e a vida abandono,

quem sou eu senão sombra exalta?

Viver é dor, é riso, é brasa,

é fogo voraz, é cinza no chão.

Sonhar é promessa que nunca atrasa,

mas nunca se cumpre em plena ilusão.

E se a alma em brado implora sentido,

quem poderá responder sem temer?

Se a vida é um sonho que foge ferido,

ou se o sonho é a vida que teme morrer?

Sonhemos então, mas sem nos perder,

vivamos também, mas sem esquecer:

que o sonho é um laço, que a vida é um nó,

e juntos dançamos, sem nunca saber.