EXISTE O PARAÍSO?!

Vi Dante atravessar Infernos,

ouvir os gritos dos que se perderam de si,

mas também o vi subir, passo a passo,

até que o amor o erguesse ao alto.

Mas... e nós?

Que não somos versos medievais,

nem almas presas em cânticos épicos,

— nós, que vivemos entre ônibus e afagos,

entre boletos e abraços —

onde está o Paraíso?

Existe o Paraíso?

Sim.

Não como uma promessa de nuvens e harpas,

mas como a manhã que acorda ao lado de quem se ama.

Existe o Paraíso...

na risada que se espalha no corredor de casa,

no cheiro do café passado por alguém que te espera,

na dança lenta de corpos que se encontram sem pressa.

O Paraíso é quando dois olhares se entendem,

é quando o silêncio não oprime, mas acolhe.

É quando o gesto pequeno é grande,

e a presença vira poesia.

Não me iludo com castelos celestes.

Prefiro as casas de porta aberta,

os quintais com rede,

as amizades que resistem às tempestades.

Dante chegou a Beatriz.

Eu, quando chego ao teu sorriso,

também me sinto no Éden.

Existe o Paraíso.

Não depois da vida.

Mas aqui —

quando se ama com verdade,

quando se vive com sentido,

quando se descobre que ser feliz

é encontrar o sagrado

no que é simples,

no que é humano.